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Filantropo e personalidade influente nos movimentos associativos de Buarcos, ali realizou obra importante. Criou uma escola nocturna, organizou um Teatro, escreveu peças que subiram ao palco, fundou uma cooperativa, manteve uma creche, sonhou um porto oceânico, empenhou-se no nascimento de uma corporação de Bombeiros Voluntários, foi mesário de uma Misericórdia, pertenceu à Universidade Livre e colaborou em jornais.
Participou também na fundação do Museu Municipal, foi investigador de História local e autor de estudos versando a arqueologia, toponímia, etnografia, genealogia, história monumental, entre muitas outras áreas e temáticas. Distinguiu-se ainda como estudioso da biologia e zoologia. O seu nome é Augusto Goltz de Carvalho e foi republicano e maçon exemplar. Com uma vida e obra cuja história merece ser contada e ser conhecida por todos nós.
Nasceu em Buarcos em 28 de Março de 1858. Foi conceituado professor do ensino primário, nas quais obteve a classificação de Bom.
Por despacho ministerial de 10 de Junho de 1881 foi nomeado mestre do primeiro grau de instrução primária de Buarcos. A Câmara Municipal concede-lhe alvará de professor vitalício do ensino primário no primeiro grau do sexo masculino, exercendo essa actividade com elevada proficiência, durante cerca de trinta anos valendo-lhe, no ano escolar de 1904-1905, pelos bons resultados escolares obtidos, um prémio de sessenta mil reis.
Filantropo e personalidade influente nos movimentos associativos de Buarcos, ali realiza obra importante. Assim, cria em 1881-1882 a sua Escola Particular Nocturna que, desde cedo, abrange mais de duas dezenas de alunos, dos 11 aos 27 anos de idade, das mais diversificadas profissões: pedreiros, tanoeiros, trabalhadores rurais, serralheiros, carpinteiros, carreiros e proprietários. Funcionava de segunda a Sábado e cada aula tinha a duração de meia hora com as seguintes disciplinas: Gramática, Escrita, Aritmética, Ditado, Desenho, Leitura, Operações, Paleógrafo, História, Sistema Métrico e Tabuada. Desconhece-se o tempo de duração desta escola, mas sabemos que, em 1889, o Triângulo Maçónico Nº 118 de Buarcos, ali instalou a Escola Popular Nocturna Bernardino Machado, sendo que Goltz de Carvalho lá continuo a dar aulas.
Aos dezoito anos tinha já organizado o Teatro Presépio, a cuja direcção presidiu. A partir de 1881 e por tempo desconhecido, mantém, praticamente a suas expensas, uma creche que durante o dia recolhia e dava assistência a crianças pobres de Buarcos, enquanto os pais trabalhavam. Ajudou também a fundar a Cooperativa Buarcosense (1904), presidindo à sua Assembleia Geral, bem como a União Marítima de Buarcos (1912), para a qual redigiu os estatutos e lhe presidiu aos destinos, demonstrando uma séria preocupação com os pescadores da sua terra.
Vemo-lo ainda interessado pela construção do porto oceânico do Cabo Mondego, sonho partilhado com o engenheiro Baldaque da silva. Também na fundação dos Bombeiros Voluntários de Buarcos teve Goltz de Carvalho papel assinalável, presidindo à assembleia geral, sendo Presidente da Direcção Fernando Augusto Soares, da Loja Fernandes Tomás, Nº 212, da Figueira da Foz, secretariado por João da Costa Coelho, obreiro do Triângulo 118. Foi igualmente mesário activo da Misericórdia de Buarcos, sendo em 1907 o inscrito Nº154 e onde foi, que se saiba, pelo menos escrivão.
Conhecem-se de Goltz de Carvalho duas peças de teatro: A Vinda do Messias ou o Bom Samaritano e O Sonho do Faraó, levadas à cena pelo Grupo Caras Direitas, colectividade de que se tornaria elemento preponderante, tendo sido presidente honorário da sua assembleia geral, onde discursou por diversas vezes, nomeadamente sobre matéria histórica.
Pertenceu ainda à Universidade Livre, sendo o associado Nº 1093 – Interessou-se pela investigação histórica, colaborando assiduamente com Santos Rocha, desde 1894, nas explorações arqueológicas na região figueirense, na organização do Museu Municipal e na respectiva Sociedade Arqueológica da Figueira, de cuja direcção fez parte. Como investigador de história local, foi autor de inúmeros estudos versando a arqueologia, toponímia, etnografia, genealogia, história monumental, entre muitas outras áreas e temáticas.
Distinguiu-se ainda como estudioso da biologia zoologia, colaborando com personalidades de instituições universitárias europeias e portuguesas e foi apreciado como recolector e catalogador de espécies vegetais e animais. O especialista Dr. K. Keck saúda, aliás, Goltz de Carvalho como colaborador de um Herbarium Schutz, encomendando-lhe ou remetendo-lhe plantas, num verdadeiro sistema e permutas servindo o também especialista com Adolfo Moller como intermediário. Também com o Doutor Júlio Henriques, professor de botânica da Universidade de Coimbra, há uma intensa troca de sementes e plantas, chegando o ilustre cientista a pedir-lhe algas para um “especialista da Noruega”.
No domínio dos crustáceos marinhos, descobriu um novo exemplar das maias, que passou, aliás, a denominar-se Maia Goltziana. Colaborou no “ Correio da Figueira”, “Correspondência da Figueira”, “Gazeta da Figueira” e em publicações de carácter literário e científico como “Anais de Ciências Naturais”, “Portugália” (Porto), “Boletim da Sociedade Arqueológica da Figueira” e o boletim “Figueira”.
Republicano convicto, encabeçou a respectiva Comissão Paroquial e presidiu à primeira Junta de Freguesia depois do 5 de Outubro de 1910 e até à data da sua morte. Iniciado em data desconhecida, possivelmente no triângulo Nº 118 de Buarcos, fundou em 1911 a Loja Luz e Harmonia do Rito Escocês Antigo e Aceito, de que foi Venerável. Desconhece-se, no entanto, o seu nome simbólico.
Em Goltz de Carvalho encontramos o verdadeiro espírito de republicano e livre-pensador dos homens do séc. XIX, onde convivem sadiamente o espírito filantrópico, fraterno, científico e associativo, com uma curiosidade imensa por tudo o que o rodeava, com um amor profundo pela sua terra e pelas suas gentes. Embora exista, em Buarcos, uma distinta Associação que o invoca como patrono, pena é que se tenha deixado passar a oportunidade de dar à Escola do 2º e 3º Ciclo de Buarcos o nome do insigne Professor Augusto Goltz de Carvalho.
Baden-Powell, Loja Coerência
Publicado na revista Grémio Lusitano, nº 12