Martin Guia e Ferrero dos Santos disputam cargo de grão mestre
O processo eleitoral está decorrer e só no dia 16 se saberá o seu resultado. Trovão do Rosário, o grão-mestre cessante, considera-se equidistante das duas candidaturas, embora Martin Guia tenha feito parte da sua lista, há três anos. Ferrero acha que é gato escondido com o rabo de fora.
Martim Guia e Ferrero Marques dos Santos disputam a eleição para grão-mestre da Grande Loja Regular de Portugal-Legal (GLRP-L). As eleições decorrem sobre o secretismo próprio de uma organização maçónica e só no próximo de 16 se saberá quem venceu a disputa.
A GLRP-L é a segunda maior associação maçónica portuguesa e surgiu em 1991, de uma separação do Grande Oriente Lusitano (GOL). Na sua origem esteve uma clivagem ideológica em torno da definição do que é a maçonaria e, obviamente, uma luta de influência política. O GOL foi apontado como demasiado Jacobino, ou seja próximo dos socialistas radicais, preso a um ateísmo histórico de filiação francófona.
Porém, a história do GLRP-L, no seu respeito por um deísmo bíblico de fonte anglo-saxónica, com alinhamento político pelo tradicionalismo liberal, tem sido muito agitada. As convulsões internas levaram a uma cisão em 1996, com o regresso de muitos maçons à casa de origem, ou seja ao GOL, e outros a ficarem por associações mais ou menos regionais, como é o caso da Grande Loja Nacional Portuguesa, liderada por Álvaro Crava, assente na região transmontana. Houve mesmo que fizesse uma revisão doutrinária e tenha aceite uma maçonaria de homens e mulheres, como fez Mário Parra, com a Grande Loja Tradicional de Portugal.
As acusações de tráfico de influências e gestão danosa de património alheio, que o caso da Universidade Moderna trouxe a público, acabaram por atingir a maçonaria portuguesa no seu conjunto, mas foi sobre a GLRP-L que recaiu o ónus da crítica, pelo facto de muitos dos acusados naquele processo terem sido seus membros, antes da cisão de 1996.
O mandato de Nandin de Carvalho (1996-2000) ressentiu-se desses choques internos e a preocupação do seu sucessor, José Anes (2000-2003), foi "normalizar" a vida interna, através de um acelerado recrutamento. Conseguiu renovar a paisagem humana dentro da Grande Loja, mas desagradou pelos métodos acelerados como que os novos membros foram iniciados.
Trovão do Rosário (2003-2006) assumiu como trave mestra do seu exercício o trabalho interno, mas fê-lo, com tal discrição que os seus irmãos mais espirituosos acabaram por o alcunhar de "Travão", ainda por cima com a acusação de não ter posto um real travão ao tráfico de influências entre política e economia.
Entradas de Isaltino e de Monteiro foram polémicas Desde Abril que a vida da GLRP-L tem passado por turbulência, com a vinda a público de inscrições que desmentiam a afirmada intenção de Trovão do Rosário, de só permitir a entrada de pessoas de bem e comportamento discreto. A polémica estalou com a admissão de Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras, e de Manuel Monteiro, presidente da Nova Democracia.
Houve lojas que fecharam em atitude de protesto, considerado que as admissões, feitas em segredo, tinham infringido a lealdade maçónica, como foi o caso das lojas Camelot e Nova Avalon.
O clima de eleições antecipadas chegou a pairar, com os dois antigos grão-mestres, Nandin de Carvalho e José Anes a virem a público manifestar alguma preocupação pela evolução interna da GLRP-L. Por fim, o processo encarreirou na assunção de duas candidaturas para a sucessão: a de Martim Guia, gestor, que em Abril se afastou da direcção de Trovão do Rosário, e Ferrem Marques dos Santos, cirurgião, critico do quase desaparecimento público da Grande Loja, o que na sua opinião é consequência de uma ausência de liderança.