"PRINCE HALL" - UMA MAÇONARIA DESCONHECIDA
I - INTRODUÇÃO
A idéia de fazer um trabalho sobre a maçonaria Prince Hall, ou seja a maçonaria dos negros dos EEUU, tem por objetivo informar à comunidade maçônica brasileira sobre uma maçonaria pujante que por longos anos tem sido escamoteada, em termos de informação, ao mundo maçônico brasileiro.
Se o Brasil se propõe a ser uma potência maçônica deve ter o cuidado de se informar sobre o que se passa no resto do mundo e parar de repetir acriticamente o que lhe é ofertado pelos sistemas de divulgação maçônicos internacionais.
O presente trabalho busca trazer à tona a figura histórica e a legenda do primeiro maçom negro dos Estados Unidos, e talvez do Hemisfério Ocidental, chamado Prince Hall, que deu origem à maçonaria dos negros norte-americanos.
Busca, a seguir, relatar as dificuldades da Obediência Prince Hall nos Estado Unidos e a tentativa de formar uma Grande Loja Nacional Prince Hall.
Relata o que denominei de pérolas maçônicas, ou seja as instruções normativas da maçonaria branca em negar reconhecimento à sua congênerenegra, num bestialógico digno dos tempos mais obscurantistas da história universal.
Termina propondo um repto para que se estude mais a fundo este importante ramo da maçonaria universal, visto que o Brasil, pela sua populaçãonegra não pode viver só da versão do homem branco.
Concomitantemente, busca extrair lições estratégicas sobre o que se passa no mundo da alta política.
Como surgiu a idéia de escrever algo sobre a maçonaria Prince Hall? Na minha última viagem a Nova Iorque comprei um pequeno livro sobre a maçonaria Prince Hall[1] que li com grande prazer, pois, no Brasil, sempre que desejei informar-me sobre a maçonaria negra nos Estados Unidos, encontrava uma barreira devido à inexistência de bibliografia apropriada.
O autor, um militar negro chamado Joseph A.Walkes, tornou-se mestre maçom em 1965 na Loja Cecil A.Ellis nº 110, na base militar norteamericana de Karlrude, na Alemanha Ocidental, que trabalhava sob a jurisdição da Grande Loja Prince Hall de Maryland. É, ainda,membro honorário da Loja Militar da Zona do Canal nº 174 no canal do Panamá. Atualmente, pertence aos quadros da Loja Rei Salomão nº15 de Forte Leonard Wood no Estado de Missouri. Foi editor da revista Masonic Light e, atualmente, edita a revista News Quaterly do Supremo Conselho Unido 33º da Jurisdição Sul (PHA) nos Estados Unidos.
Com este Ir\ negro, informei-me sobre o básico, da ótica negra evidentemente, da maçonaria Prince Hall nos Estados Unidos. O presente trabalho segue, em linhas gerais, as pegadas de Walkes. Aprendi, por exemplo que ao lado do tronco da maçonaria branca, que ele chama de maçonaria caucasiana, existe um frondoso galho, chamado Prince Hall. Este galho e este tronco estão em constante estado de guerra, surda ou aberta, até os dias de hoje.
Procurei distinguir o fato histórico real da lenda vigente. E, aqui, convém salientar o livro clássico de Grimshaw[2] que, se por um lado foi de importância fundamental em trazer à tona a legenda da figura seminal de Prince Hall, dando uma consciência de luta aos negros maçons norte americanos, por outro lado, criou uma série de contos de fada sobre o mesmo Prince Hall, dificultando, e muito, a moderna historiografia. Sempre que usar, neste trabalho, a assertiva ‘a tradição afirma tal coisa’, estarei me referindo à versão de Grimshaw.
Neste trabalho, procurei seguir as pegadas dos historiadores clássicos e modernos que se debruçaram sobre a maçonaria Prince Hall, tais
como o aludido Grimshaw, Davis, Walkes, Sherman, Wesley, etc.