quarta-feira, junho 21, 2006
Os Mistérios da Regaleira
Em tempos conhecida como Monte da Lua, o próprio nome de Sintra vem da cultura celta, que chamava Cynthia à localidade. Há quem acredite que é lá que está o Santo Graal. Pedro Costa Cabral, investigador ligado à maçonaria não vai tão longe: "A Quinta da Regaleira resulta de uma comenda declaradora da descendência de Magdala Ben Pandira (Maria Madalena e Jesus Cristo) constituída por António Augusto Carvalho Monteiro." Monteiro era um advogado abastado que comprou a quinta por volta de 1892 e construiu todo um universo simbólico pleno de esoterismo e mensagens escondidas. Carvalho Monteiro terá construído aquele espaço no lado lunar da serra de Sintra para "indicar caminhos e transmitir mensagens a favor da regeneração mental e moral do género humano a caminho da sociedade futura", diz Pedro Costa Cabral. 0 investigador afirma que a Quinta da Regaleira é um dos três pilares da maçonaria em Sintra, mas lembra que todo o percurso iniciático ligado àquela sociedade secreta só está acabado se nele se incluir o Palácio da Pena. O escritor e antropólogo José Manuel Anes defende uma coerência simbólica.
A Quinta da Regaleira apresenta o mesmo conceito sobre várias linguagens: a pagã e a cristã. A grande mensagem de toda a simbologia passa pela união do céu e da terra, a criação e a passagem das trevas à luz. Costa Cabral diz que o percurso iniciático se apresenta como "uma tomada de consciência, uma preparação ou uma primeira busca das nossas próprias mentes para a passagem secreta que nos levará à câmara invisível das nossas almas". José Anes lembra que todos elementos simbólicos foram cuidadosamente escolhidos, sendo impossível serem obra do acaso. 0 percurso do visitante começa pelo "patamar dos deuses" com dância). A próxima paragem é na loggia, uma espécie de varanda onde duas portas, uma aberta e outra fechada, cumprem o prenúncio de uma viagem esotérica e iniciática. Cada pessoa deve deixar-se guiar pelo seu instinto e fazer o seu próprio percurso.
A quinta é conhecida pelo poço, uma torre invertida que converge para o centro da terra. Há também um poço imperfeito onde não é possível fazer qualquer tipo de descida, pois tratando-se de um percurso iniciático é normal que quem faz o caminho pela primeira vez não chegue logo ao seu objectivo. A entrada superior do poço grande faz-se a partir de uma porta giratória que permite a passagem das trevas à luz. O visitante é convidado a descer nove patamares com 15 degraus cada. No fundo encontramos uma cruz templária no centro de uma rosa dos ventos. É a representação de um percurso de morte e ressurreição onde o iniciado é convidado a descer ao centro de si próprio, entrar em contacto com os seus próprios medos e receios, percorrer galerias escuras e frias e húmidas até sair para o portal dos guardiães onde volta a renascer para a luz. O iniciado passa por um portal onde é purificado pela água e chega junto de dois "guardiães", uma espécie de lagartos que guardam uma concha.
A gruta da Leda é um símbolo de natureza alquímica. Tem uma forma hexagonal (símbolo da união do céu e da terra) onde está uma escultura de Leda que com uma pomba na mão é mordida (isto é fecundada) por Zeus, a maior divindade do Olimpo, que se encontra disafarçado de cisne. Zeus simboliza o Céu e Leda a Terra. Pode ser estabelecida uma anologia com Maria, mãe de Cristo, que foi fecundada por "obra e graça do Espírito Santo". Na capela da santíssima trindade, Jesus nunca aparece crucificado. A imagem do altar mostra-o ressuscitado a coroar Maria, vestida com as cores da obra alquímica: azul, branco e vermelho. A pintura está enquadrada horizontalmente por dois corações - o de Jesus e o de Maria - e verticalmente por pombas do Espirito Santo, que formam uma cruz. Existem vários tipos de cruzes: templárias e de Cristo, de oito pontas (também de origem templária). Logo à entrada encontramos o "olho de Deus" sobreposto à cruz templária, símbolo maçónico. No chão existem estrelas de cinco pontas (pentagramas), símbolo do homem e do microcosmos. As escadas do lado direito dão acesso a uma cripta onde terá estado o corpo de Carvalho Monteiro. Esta apresenta um altar debaixo de outro altar cujo chão é ladrilhado preto e branco, simbolizando o obscuro e o luminoso, o feminino e o masculino, as trevas e a luz. Numa das paredes externas da capela encontramos um símbolo alquímico: um alto relevo com a forma de um castelo com duas torres separadas por uma boca aberta e labaredas - um athanor (fomo alquímico que representa os três mundos, o subterrâneo - infernal, o intermédio - de fogo "secreto" e o superior - da cavalaria espiritual). Esta concepção triunitária do mundo também é visível em dois bancos que representam o número 515 da Divina Comédia, o mensageiro de Deus. O 5 é entendido como o mundo inferior da matéria, o 1 está relacionado com a alma e o outro 5 diz respeito ao mundo superior ou spiritual.
Pedro Costa Cabral considera que "a partir da montanha de Sintra chegará o advento da Luz do Mundo trazida pelo Espírito Santo como Santo Libertador do Mundo". O palácio mostra na fachada uma alusão ao milagre das rosas de Santa Isabel, mas do regaço da neta de Carvalho Monteiro não saem rosas mas pombas, uma alusão ao Espírito Santo. Também a sala da caça está repleta de simbologia maçónica com alusão ao 515, devido à disposição dos símbolos. A sala dos reis apresenta as imagens de 20 reis e quatro rainhas de Portugal. A destacar D. Afonso Henriques (milagre de Ourique), D. Dinis e D. Isabel (culto do Espírito Santo), D. Duarte (detentor de uma biblioteca com livros de alquimia e maçonaria), D. Afonso V (a quem alguns atribuem um tratado de alquimia), D. Sebastião (O Desejado, forte sentimento nacionalista e messiânico), D. Manuel II (personificação da aventura marítima portuguesa), D. João V e D. José I (anunciação do mito dó Quinto Império e tentativa de estabelecimento de uma igreja nacional). Num dos tectos da mansão é visível a representação dos três pilares da maçonaria simbólica: a Força, a Sabedoria e a Beleza. Todos os elementos aparecem dispostos numa espécie de cenário que pretende despertar a atenção do visitante e levá-lo à interpretação dos símbolos. A grande "mensagem" deste espaço passa pela morte e ressurreição, pela união do Céu e da Terra e pela exaltação da identidade nacional. José Serrão, o grão-mestre do GOI (Grande Oriente Ibérico), representação maçónica mista, lembra que a interpretação dos símbolos é relativa, pois cada pessoa interpreta à sua maneira e segundo o significado que eles têm para si. Por tudo isto a serra de Sintra terá recebido esta apreciação por parte do compositor alemão Richard Strauss: "É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de HIingsor - e lá no alto está o Santo Graal."
[ Colocado por
Aprendiz Maçon @ 8:02 da tarde ]
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