ALOCUÇÃO DO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA FRANCESA, SR. JACQUES CHIRAC, NOS 275 ANOS DA MAÇONARIA FRANCESA.
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Senhoras e Senhores grão-mestres,
Senhoras e Senhores,
Sinto-me feliz por receber hoje os representantes da uma tradição filosófica que teve um importante papel, em França e no mundo, na elaboração e na difusão das ideias republicanas.
Há histórias que contribuem para forjar a história, acontecimentos que fazem avançar a causa da liberdade. A Criação, em 1728, da primeira loja francesa é um deles.
Ao receber-vos hoje, desejei render uma homenagem ao papel cívico das sociedades de pensamento. Um papel activo em defesa e afirmação dos princípios republicanos, num papel de vigilância e reflexão.
Este aniversário é também para vocês uma ocasião para dar uma ideia exacta da franco-maçonaria, muito mais longe que razões pontuais e de prejuízos.
Inscrever este compromisso numa herança da ilustração. Luzes da razão, da tolerância e da solidariedade humana, luzes da liberdade, a liberdade absoluta de consciência, a liberdade de dar, porque a dádiva é um motor de progresso. Uma liberdade que resume bem a triplica: “causar e não impor, sugerir mais do que declarar”. Resumidamente, a verdadeira liberdade do homem para com as paixões como nos jugos sociais.
Alain Bauer, cuja iniciativa saúdo, que reúne hoje aqui, explicou o nascimento da maçonaria em França às portas do século XVIII, com esta bonita fórmula: “é o povo da Enciclopédia que tenta converter-se nas luzes”. Nascido nos espasmos das guerras civis e religiosas inglesas, o ideal maçónico, o Isaac Newton, sonhava substituir os dogmatismos por um debate sobre o progresso científico, aflorar a pressão, romper as rédeas, para instaurar um espaço de liberdade, fora dos tabus e regras do seu tempo.
Com esta história, com estas convicções, a franco-maçonaria pode assumir-se com orgulho. Fundam o seu compromisso. Assinalam as suas tradições. Três séculos já passaram e os seus trabalhos seguem-se realizando-se na liberdade, a denegação das certezas, a abertura internacional, procurando sempre a indispensável serenidade na qual se devem levar a cabo as reflexões, longe da agitação do mundo.
A sua fidelidade às tradições, o seu compromisso ao serviço do homem, a franco-maçonaria pagou-os amplamente, perseguida por todos os totalitarismos.
As horas negras de ocupação nazi marcam-na penosamente. A partir de Agosto de 1940, promulga-se uma legislação anti-maçónica. As obediências dissolvem-se, são ocupadas localmente, são devastados templos, são destruídos arquivos, suas colecções são roubadas. Denunciam-se os franco-maçons, seus nomes são proporcionados ao invasor nazi. Muitos de entre eles foram deportados e encontraram a morte nos campos de concentração. Nunca na sua história, a franco-maçonaria francesa, que sempre se desenvolveu no maior respeito das suas instituições e leis, haviam de sofrer com tal desenvolvimento de violência e ódio.
Esta animada diversão não pode explicar-se sem ser pelo indefectível compromisso dos franco-maçons com a República. Eles ajudaram a nascer a República, estendendo as suas ideias à razão e ao progresso. Velaram-na quando era frágil e atacada. Alimentaram-na com a sua exigência e com a sua reflexão. Todavia hoje estão na primeira fila dos seus opositores.
Os séculos XVIII e XIX, foram naturalmente de combate contra o autoritarismo.
Nas tabernas das suas origens, contribuíram para difundir os valores que geraram a Revolução francesa e que promulgaram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. O grande impulso de 1848, militam a favor das liberdades políticas e sindicais, a liberdade da informação, a liberdade de associação, a absolvição da escravatura.
Depois de ter contribuído com o nascer da III República, são numerosos os que se comprometem na Liga dos Direitos humanos, para que triunfe a inocência do Capitão Dreyfus. Alguns anos antes, haviam preparado, de uma forma activa e ardentemente a lei de 1882, lei fundamental para a República, que criava um ensino primário obrigatório, laico e gratuito. Com esta mesma firmeza, o mesmo entusiasmo, apoiam a lei de 1901, que garantia a liberdade de associação, logo a lei de 1905, que separa as igrejas do Estado.
A luta pela laicidade deve muito a este compromisso. Combate que segue estando sempre na actualidade. Combate a tolerância e por uma fraternidade baseada no respeito do outro e que não se detêm perante as diferenças, as origens, as religiões.
Com este passo no tempo, à medida que se vão arreigando a República, a quem se impuseram valores universais que defende, a franco-maçonaria francesa supõe atrair mulheres e homens comprometidos com a vida social e representativa da França em todas as suas diversidades.
Não há questões, numa relação com o progresso humano, que os franco-mações não tenham abordado. Recentemente, individualmente ou de maneira colectiva, envolveram-se em debates sobre o lugar da mulher na nossa vida pública, sobre a bioética, a recepção e o lugar dos menos válidos, o futuro da escola, a construção europeia, o desenvolvimento sustentável, a universalização, a diversidade cultural, a questão do choque demográfico e a adaptação necessária da sociedade francesa e suas estruturas.
Parece que os franco-mações têm marcado com o coração a exigência humanista, estão nos primeiros postos da luta contra o racismo, o anti-semitismo e a xenofobia, contra a discriminação e contra a violência.
Senhoras e Senhores,
Este aniversário que nos reúne, significa um compromisso renovado pelo futuro, por novos progressos e outras liberdades.
Hoje, quero saudar a sua acção que desempenhou um papel tão essencial no desenvolvimento do ideal republicano em França. Ao receber todos, desejo dar-vos prova do respeito da Nação para os que são e para os que fizeram.
Obrigado.
(traduzido por F. Silva – GLNP em France – 2004.02.01)