Iniciação pela internet
in Público
Iniciação pela Internet Gera Desentendimento na Maçonaria
Por POR ANTÓNIO MELO
Sábado, 07 de Fevereiro de 2004
A liberdade, a solidariedade e a tolerância, valores primordiais na maçonaria, estão a ter uma leitura altamente extensiva por parte de algumas das lojas da obediência regular, que acredita existir um Supremo Arquitecto que do caos inicial criou um Universo perfeito.
A crer nos desabafos de alguns irmãos, as cerimónias de iniciação estão a ser feitas com "grande ligeireza". Em três meses, através de um curso por correspondência via Internet, o aprendiz chega a mestre e, com um esforço suplementar, pode mesmo tornar-se venerável, isto é, o mestre da loja.
Este foi o percurso que Paulo Novo (ver caixa) diz ter seguido na Grande Loja Nacional Portuguesa, para onde entrou em Fevereiro de 2002. Em Junho era já secretário da loja São Jorge e, se não fosse um diferendo com o venerável, era de prever que antes de findar o ano também ele seria um venerável.
Para chegar a mestre, disse, bastava enviar os seus dados pessoais através do correio electrónico - www.terraavista.pt/mussulo/4701/, pelo endereço Adesao@hotmail.com - e esperar a resposta na volta do correio. A acompanhá-la vinha o preçário pormenorizado, para evitar eventuais reclamações. Assim, o custo da iniciação fica em 250 euros, nela se incluindo a oferta do avental e das luvas, a que acresce uma jóia mensal de 25 euros. Para cada mudança de grau, exige-se um suplemento de 100 euros e, no caso da exaltação a mestre, um reforço de 200 euros. As insígnias são pagas à parte, pois o seu custo depende do material em que forem feitas. Podem ser em metais nobres, com ou sem pedras preciosas incrustadas, do mesmo modo para com os anéis e demais adereços simbólicos.
Este modelo de recrutamento e iniciação maçónica foi introduzido em Portugal pela loja São Jorge, da Grande Loja Nacional Portuguesa (GLNP), com sede em Bragança, mas, a crer nas primeiras reacções, o seu êxito está longe de assegurado.
Com efeito, apesar de já se praticar em certos Estados norte-americanos, o grão-mestre da GLNP, Álvaro Carva, considerou que os desentendimentos que eclodiram dentro desta loja mereciam um inquérito. Por isso, pelo menos provisoriamente, a São Jorge teve de "abater colunas", ou seja, suspendeu os seus trabalhos.
O encerramento ocorreu há cerca de sete meses, o que para o dirigente da GLNP é prova suficiente de que "não há ligeireza" nem "nenhuma precipitação" na condução dos trabalhos maçónicos dentro da sua obediência. Garante que o recrutamento não se faz por correio electrónico e que qualquer profano pode tomar conhecimento das actividades da GLNP através do seu sítio oficial na Internet - www.glnp.pt/.
Álvaro Carva não aceita que se diga que a sua obediência está isolada nacional e internacionalmente. Argumenta com a realização, em Maio do ano passado, de um encontro da Confederação das Grandes Lojas Unidas da Europa, que reuniu 180 maçons no Porto. Considera que a ausência de delegações maçónicas portuguesas é uma questão que apenas diz respeito a essas outras obediências. Quanto às críticas de "maçonaria de loja de 300", que lhe seriam endereçadas pelo modo de recrutamento praticado, desmente-as categoricamente, só as entendendo vindas de sectores que estão em dissidência com a GLNP.
É certo que a GLNP é ela própria uma dissidência de uma dissidência. Os seus membros fundadores pertenciam inicialmente à Grande Loja Regular de Portugal, mas com a cisão que, em Dezembro de 1996, ali se verificou e deu origem à Grande Loja Regular de Portugal - Legal, o grupo de Trás-os-Montes autonomizou-se. Em torno de Carva, Gil Filipe e Manuel Paninho Pereira, criou a GLNP, do mesmo modo que um outro grupo criou a Loja Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia.